Sim, fui vítima de bullying e esta é a minha história!
Numa altura em que tanto se tem
falado de bullying na comunicação social portuguesa e sendo este um
tema que a mim (infelizmente) me diz bastante, não consigo ouvir as
notícias sem pensar também em tudo o que eu passei. Por isso aqui
vai a minha história e espero que sirva para que estes casos sejam
denunciados e que os agressores jamais passem impunes!
Eu sempre fui uma rapariga tímida e sossegada. Nunca tive paciência
para aturar idiotas com a mania que têm graça e sempre preferi
estar no meu canto sossegada sem ninguém a incomodar-me do que
meter-me em confusões. E o divórcio dos meus pais, como devem
calcular, também não veio ajudar em nada. E é claro que tudo isto
depois teve consequências para mim. Em especial a partir do momento
em que entro para o 5º ano e me deparo com todo um mundo novo à
minha volta e pessoas que eu não conhecia de lado nenhum.
Tudo começou quando, ainda no 5º ano, alguém (que não faço a
mais pálida ideia de quem tenha sido, mas também não me interessa)
achou por bem atribuir-me uma alcunha. E a partir daqui,
praticamente, deixei de ter nome próprio, uma vez que 90% da escola
me passou a chamar por essa alcunha e não pelo meu nome verdadeiro;
e esta situação durou todo o tempo em que andei na escola
preparatória. Exceção feita, claro está, quando o objetivo era
cravarem-me folhas de teste, folhas de papel cavalinho nas aulas de
EVT, apontamentos ou deixar copiar o TPC e os testes. Nessas alturas
lembravam-se sempre do meu nome verdadeiro! (Vá-se lá saber
porquê!)
E a partir daí, vieram muitas outras situações pelas quais eu
passei diversas vezes e que, para a maioria das pessoas, podia até
nem ser nada do outro mundo mas que, a mim, incomodavam-me bastante e
deixavam-me chateada.
Por exemplo, tive aqueles colegas de turma que pegavam no meu estojo
atiravam-no para o outro lado da sala e, quando eu ia lá
recuperá-lo, aproveitavam o facto de eu não estar a olhar para me
tirar mais coisas e escondiam-nas debaixo da mesa. Claro que eu
acabava por dar por falta das coisas e só depois de MUITA
INSISTÊNCIA é que finalmente conseguia recuperar as minhas coisas.
E isto, quando não tinha que chamar a stôra ou quando não era à
custa de um eminente ataque de choro. E às vezes nem assim! Quantas
vezes eu não pedi à stôra para trocar de lugar!
Muitas vezes até o simples facto de estar na paragem de autocarro,
para mim, já era motivo de receio. Especialmente depois de uma
ocasião em que me tiraram a carteira e roubaram-me vinte escudos
(sim, ainda sou desse tempo). A partir daí, sempre que tinha que
esperar uma hora pelo autocarro, ia para a Biblioteca passar o tempo
e só quando faltavam cinco ou dez minutos é que ia para a paragem.
Mais tarde, no 7º ano, tive uma colega de turma que me riscava os
livros e uma vez chegou mesmo a colocar fatias de queijo na minha
mochila e no meio das minhas coisas. Acreditem, isto é verdade! Isto
durou o 1º período inteiro mas vá, no final do ano, lá teve a
humildade de me pedir desculpa por tudo o que me tinha feito (coisa
que os outros 99% nunca teve coragem de fazer até hoje) e hoje
damo-nos na boa, sem crises e, aliás, é das poucas pessoas que, se
a vir na rua, sou capaz de parar para dar dois dedos de conversa.
Nessa mesma turma também tive outra colega que nunca foi com a minha
cara e, sinceramente, nunca percebi porquê! Nunca lhe fiz nada de
mal nem nada que a pudesse prejudicar e, no entanto, uma das coisas
que ela mais gostava de me fazer era, quando jogávamos basket nas
aulas de Ed. Física, sempre que eu tinha a bola na mão, ela vinha
para ao pé de mim e gritava-me ao ouvido DE PROPÓSITO para me
desconcentrar e fazer-me perder a bola.
Aliás, em tudo o que envolvesse formar grupos eu era, na esmagadora
maioria das vezes, a última a ser escolhida. E muitas vezes tinha
que ser a stôra a incorporar-me num dos grupos, porque ninguém
queria ficar com a coitadinha da Tânia. E o mesmo acontecia quando,
algum colega mudava de lugar. Se a stôra mandava sentar-se ao pé de
mim, esse colega fazia logo aquela cara de nojo e dizia logo “Eh
pá, ó stôra, não!”. Era como se fosse um castigo divino, a pior
coisa que podia acontecer!
No ano seguinte tive outra colega que ainda era pior que a do 7º
(ela e a sua BFF que, recentemente, vim a descobrir que tem dois
filhos para criar). Além de me tirar as coisas sem me pedir
autorização, na única vez em nos sentámos uma ao lado da outra
(porque a professora acreditava que eu poderia ser uma boa influência
para ela, e eu ingénua também acreditei nisso), eu praticamente não
consegui prestar atenção nenhuma à aula porque passava o tempo
todo a dizer-lhe para parar de me chatear. A ela e aos coleguinhas da
mesa detrás, porque era eu, uma aluna atenta e sossegada, no meio de
três colegas conversadores e destabilizadores. Ah, e também ouve
uma situação em que elas puseram um lápis na minha mochila e
depois fingiam que o tinham perdido e iam DIRETAMENTE à minha
mochila “encontrá-lo” para depois me acusarem de o ter roubado.
E foi nesta altura em que cheguei mesmo a apanhar uma depressão (ou,
pelo menos, andei lá perto). Em boa parte devido a um colega que
sempre me tinha feito a vida negra desde o 5º ano e que acabaria por
fazer parte da minha turma no 9º ano. É certo que, ao fim de todo
este tempo, já estava mais do que habituada a ser tratada como ser
humano de 2ª, mas todos nós temos um limite e há sempre uma altura
em que já não dá para aguentar mais. E foi por todas as vezes em
que me senti humilhada, rebaixada e tratada como lixo e abaixo de cão
que eu me vim mais abaixo. Porque eu não tinha ninguém em quem
confiasse o suficiente para poder desabafar. Achava que todos iam
gozar-me, de uma maneira ou de outra. Tinha receio de ser mais
ridicularizada ainda e, por isso, guardava tudo para mim. E depois
deu no que deu!
O único sítio onde conseguia desabafar era no diário que eu
escrevia nessa altura e do qual posso mesmo citar algumas passagens.
No dia 12-06-2006, entre outras coisas, diz exatamente isto: “Muitas
vezes penso para mim se eu faço alguma falta a alguém. De certeza
que hei-de fazer tanta falta como uma pedra no sapato, (…) de
certeza que têm vergonha ou até nojo de mim, (…)”. E no dia
13-06-2006 pode ler-se o seguinte: “(…) às vezes até penso
em atirar-me de uma falésia. De certeza que ninguém ia lá para me
impedir, aliás, até iriam incentivar-me a fazê-lo.”
Como podem ver, imaginem o que é que eu não passei para me sentir
assim! Na altura não contei nada aos meus pais porque achava que não
iriam saber lidar com a situação da maneira mais eficaz e também
não eram duas horas de conversa com a Diretora de Turma que iam
resolver as coisas, porque nada disso impedia que voltasse a ser
gozada novamente.
Entretanto entrei para o ensino secundário e a coisa amainou. Claro
que, de vez em quando, lá ia ouvindo a típica boca mas, depois de
tudo o que tinha aguentado no 6 anos anteriores, já não era nada
que me afetasse. Com a mudança de escola acabei por relativizar um
bocado as coisas e deixei de me preocupar com os outros. Gozassem ou
não gozassem, por mim era igual, era para o lado que eu dormia
melhor!
E para isso muito contribuíram aqueles quatro palermas que me
iluminam o caminho até aos dias de hoje que são os Tokio Hotel. Gostem ou não, a verdade é que são eles (e as
Aliens também) que me dão as maiores forças para vir à superfície
quando tudo o resto me puxa para as profundezas do oceano.
Uma das primeiras coisas que eu descobri foi que também eles foram
gozados na escola. E então eu pensei: “Afinal não sou a única!
Eles também foram gozados na escola e estão aqui. E se eles
conseguiram ultrapassar isso e ser bem sucedidos então eu também
consigo!”. Sim porque, se nem Jesus agradou a todos, então
para que é que eu me vou preocupar em ter que agradar aos outros?!
Se gostam, gostam; se não gostam, a porta é a serventia da casa!
Não estou para me chatear!
E é esta a minha
história. Eu sei que o post ficou enorme mas tinha mesmo que ser.
Sinto que a minha história pode ajudar outras vítimas a ganhar
coragem e a fazer frente aos agressores. E mesmo que não sejam vocês
as vítimas, se têm conhecimento de algum caso de bullying, por
favor, DENUNCIEM!!! Estes casos jamais devem ser ignorados e as
vítimas não têm que sofrer em silêncio!
O silencio torna-se a nossa voz, o nosso silêncio... o nosso único conforto onde nos sentamos a escrever palavras frias, mas profundas...
ResponderEliminarPois, nestas coisas há que chamar "os bois pelos nomes", só assim é que as pessoas ganham consciência!
EliminarNem sempre é fácil falar do passado e dos seus problemas, mas li na integra e de certo que hoje em dia deves ser uma Mulher com bastante força! (se não és, tens que ser!) Acho que o grande problema nestes casos é o facto de se ter medo e de não enfrentar, isso dá-lhes "força" para continuarem e a vitima deixa-se acomodar (o que está errado!) porque como ainda se é miúdo e a personalidade ainda está a se desenvolver não se é perceptível daquilo que nos fazem, se cada um apanhasse alguém que respondesse "à letra" e metesse no seu lugar, de certo que paravam!
ResponderEliminarGostei Tânia, continua com boas postagens.
Beijinhos, Rodrigo | OOTD
É...digamos que a vida moldou-me assim! :P
EliminarE não só. Às vezes também é a escola que não sabe lidar bem com estas situações.